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‘Eu já pensei várias vezes em largar o cargo’, afirma Beltrame.

A falta de perspectivas para planejar a política de segurança no ano das Olimpíadas, em decorrência da crise financeira do estado, motivou o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, a fazer um desabafo: “Já pensei várias vezes em largar o cargo”. Embora tenha dito que ainda pode dar sua contribuição, Beltrame, sem o otimismo que virou sua marca registrada ao longo dos nove anos na pasta, afirmou nesta terça-feira que, como administrador, fica angustiado por não ter o que fazer, pois não há dinheiro nos cofres do estado.

O orçamento inicial da pasta, que inclui as polícias Militar e Civil, além do Instituto de Segurança Pública, era de R$ 11,6 bilhões no início do ano. No entanto, por causa do contingenciamento imposto pela Secretaria de Fazenda, o valor caiu para R$ 7,88 bilhões.

— A gente vê o estado numa situação de miserabilidade, a ponto de os salários dos servidores, principalmente inativos, não serem pagos. Programas de metas de incentivo aos policiais e o Regime Adicional de Serviço (RAS) foram por água abaixo (no mês passado, o governo do estado pagou os atrasados de novembro). Vejo as aeronaves e os carros blindados, que a polícia foi buscar lá fora, parados. É uma situação complicadíssima, que, sem dúvida, compromete o trabalho da segurança pública — afirmou.

As declarações de Beltrame foram dadas ao radialista Roberto Canazio, no programa “Manhã da Globo”, da Rádio Globo. Por telefone, o secretário respondeu sobre a falta de segurança nos trens que passam no Jacaré, onde traficantes circulam armados, apesar de ser uma área com UPP e com a Cidade da Polícia. Por causa de tiroteios, a SuperVia interrompeu o serviço sete vezes só no mês passado. Beltrame disse que não foi procurado pela empresa, mas que a situação no local estava se estabilizando.

DECLARAÇÕES REPERCUTEM MAL

Quando lhe perguntaram se estava desanimado por se encontrar à frente da secretaria, Beltrame não escondeu a frustração com os projetos, embora ainda acredite nas UPPs.

— Acho que ainda há muita coisa a ser feita pelo Rio. Graças à Comissão de Segurança da Alerj, o projeto das UPPs é o único que ainda não parou. Mas, se a gente não tiver um estado estruturado economicamente, não há política pública que se sustente — disse ele. — Eu tenho fôlego para fazer os projetos que me comprometi a executar. Obviamente que, na medida em que não consigo concluí-los, sem dúvida alguma não preciso ficar aqui.

A entrevista de Beltrame não repercutiu bem nos corredores do Palácio Guanabara. Segundo uma fonte do governo, pegou mal o secretário ter se queixado publicamente da administração a que pertence. Outra fonte disse que pôr a culpa na crise financeira seria uma forma de deixar o cargo, por não ter mais o domínio das polícias.

O presidente da CPI das Armas, deputado Carlos Minc (PV), contou que percebeu o desânimo de Beltrame quando ele foi depor na comissão:

— Ele está num estado de depressão enorme. Viveu a glória de ter enfrentado, de forma criativa, o domínio territorial do tráfico. Devemos isso a ele. Beltrame sempre foi bem disposto, com respostas diretas. Hoje, está apático.

O presidente da Alerj, Jorge Picciani (PMDB), concorda com Minc sobre o legado de Beltrame:

— Ele tem feito milagre. O Rio é devedor do secretário, que é um homem íntegro, correto, dedicado e que fez e faz um ótimo trabalho. Infelizmente, o deixaram nessa situação. Mas Beltrame é muito bom. O Rio precisa dele.

 

Fonte: O Globo

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