Morre a primeira bailarina negra do Teatro Municipal, aos 93 anos.

A bailarina e coreógrafa Mercedes Baptista morreu na noite desta segunda-feira, aos 93 anos. Ela estava no lar de repouso onde morava na Rua Euclides da Rocha, em Copacabana, na Zona Sul do Rio. De acordo com a cuidadora de Mercedes, identificada apenas como Jô, a bailarina sofria de problemas cardíacos. Ela era viúva e não tinha filhos. O corpo da bailarina será cremado no Cemitério Memorial do Carmo, no Caju. O horário da cerimônia ainda não foi definido.

Mercedes se notabilizou por ser a primeira bailarina negra do Teatro Municipal do Rio, durante a década de 1950, além de introduzir danças inéditas em desfiles de Escolas de Samba, como na apresentação do Salgueiro em 1963, onde incorporou danças consideradas eruditas em alas da agremiação. Ela também foi homenageada pelo O Globo vencendo o Estandarte de Ouro do ano de 2009, na categoria personalidade do ano.

A dançarina clássica foi importante na luta pela reafirmação do negro como artista e também buscou valorizar a cultura brasileira. Abalado, o professor Manoel Dionísio da Escola de Mestre-sala, porta-bandeira e porta-estandarte, soube do fato através de um telefonema recebido das enfermeiras que cuidavam de Mercedes. Manoel integrou a companhia de ballet folclórico de Mercedes e visitava a amiga quinzenalmente. Segundo ele, mesmo debilitada por causa da idade, a bailarina continuava admirando a dança.

— A gente sempre promovia algumas rodas de samba para ela. Mesmo na cadeira de rodas, ela sempre mexia os ombros. Ela foi e sempre será uma referência para mim. Infelizmente, a missão dela terminou por aqui.

Em 1948, ela entrou para o corpo de Baile do Municipal. Mercedes Baptista foi ainda uma figura importante para o carnaval carioca. Ela foi responsável pela clássica ala do minueto no desfile do Salgueiro sobre “Xica da Silva”, em 1963.

— Fomos muito criticados na época. Foi um escândalo. Fomos considerados pela crítica carnavalesca como a coreografia maldita do carnaval. Dois anos depois começaram a copiar a gente — afirmou Manoel Dionísio, que também participou da apresentação salgueirense.

Em 2008, Mercedes Baptista foi homenageada pela escola de samba da Série A, Cubango, no enredo “Mercedes Batista, de Passo a Passo, um Passo”. No ano seguinte, a Unidos de Vila Isabel com enredo referente ao centenário do Teatro Municipal também prestou homenagem à Mercedes.

Mercedes Baptista nasceu em 1921, no município de Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense. Ainda jovem, mudou-se para a cidade do Rio de Janeiro, onde trabalhou em uma gráfica, em fábrica de chapéu e empregada doméstica. Mercedes não tinha filhos.

 


Fonte: Jornal O Globo

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