‘Criei o Paes. É uma vitória’, afirma Cesar Maia

Após derrota, o balanço. Como em 2010, o vereador Cesar Maia (DEM) tentou e não conseguiu se eleger senador. Desta vez, levou uma goleada de Romário (PSB) nas urnas, vendo naufragar a criticada aliança com o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), que agora abre espaço para ter o ex-prefeito em seu novo governo. Menos “excitado” com a política, o democrata apontou erros na candidatura e arrependimento da aliança de seu clã com o de Anthony Garotinho (PR) em 2012. Para o futuro, projeta a fusão de seu partido, descarta concorrer à prefeitura e garimpa talentos, de preferência mais fiéis que o ex-pupilo e adversário Eduardo Paes (PMDB), prefeito do Rio

ODIA: O senhor será secretário de Relações Internacionais no futuro governo do Pezão?

CESAR MAIA: Foi feito um esforço enorme para que eu recuasse da minha candidatura ao governo e fosse disputar o Senado na chapa do Pezão. Construí uma admiração muito grande por ele, e surgiu esse cargo, que encaro não como um prêmio de consolação, mas um reconhecimento.

A pasta de Relações Internacionais está dentro da Secretaria da Casa Civil. A ideia é que este novo cargo seja criado exclusivamente para o senhor?

Confirmada a vitória do Pezão, todos os partidos foram chamados para conversar com ele e com o Sérgio Cabral. Pelo DEM, foram meu filho (o deputado federal Rodrigo Maia) e o vereador Carlo Caiado. Nessa conversa, Pezão e Cabral disseram que seria bom se eu fosse para o Palácio Guanabara. Rodrigo foi instruído a conversar comigo para listar quais são as minhas atividades. O que faço são meus estudos sobre Relações Internacionais, história do Rio de Janeiro, biografias de políticos. Isso interessa ao governo? Parece que sim. Então, me dá estrutura maior para eu fazer o que faço dentro do governo, com um escopo maior que o da Casa Civil. Ter um cargo não me preocupa, mas eles estão vendo isso.

E se o convite fosse para uma outra secretaria? O senhor parece muito apaixonado, muito engajado, quando fala de Educação, por exemplo.

Não tive nenhum contato ainda com Pezão e Cabral depois da eleição, nem pelo telefone. Mas se alguém me oferecer isso, vai arrumar motivo para brigar comigo. Eu só quero fazer o que eu faço, não quero mais aborrecimento. Só faria algo que me desse prazer.

Para muitos dos seus eleitores, foi difícil entender quando o senhor se aliou ao PMDB para ser candidato. Sua ida para o governo Pezão pode prejudicar o DEM?

Quem sabe se prejudica ou não o partido são os mais jovens do partido. E eles estão organizando essa possibilidade de ir para o governo. O futuro do partido está estimulando isso, então é com eles mesmo.

Um possível problema na sua ida para o governo são suas postagens no seu “ex-blog” e no Twitter, locais em que o senhor faz críticas ao prefeito Eduardo Paes e até ao governo do estado.

Eu não vou deixar de fazer o que eu faço. Disse para o Rodrigo que eu não estou mais dando nomes àqueles que critico na internet. Agora, eu falo “o governo” , “a prefeitura”, e não dou mais os nomes. Se essas críticas vão ser feitas para dentro, e não externamente, não sei. Mas é a minha vida. Publiquei recentemente, por exemplo, informações sobre a greve do IplanRio, que é a Empresa Municipal de Informática. É uma situação muito delicada para prefeitura e meu papel é divulgar.

Depois de três mandatos como prefeito, o senhor se tornou vereador em 2012 e passou para o outro lado do balcão. Faltando ainda dois anos para o término de seu mandato, acredita que cumpriu seu papel como oposição?

Consegui fazer a oposição que desejava. Na Câmara, o governo eleito sempre tem enorme maioria: dos 52 vereadores, 39, 40, são do governo. Mas meu papel era o de informar a sociedade. É difícil aprovar projetos de lei sem maioria. Por isso, divulguei informações na internet sobre diversos problemas no Rio que são pouco divulgados.

Voltando às eleições deste ano: ninguém entendeu quando o senhor se aliou ao PMDB. O prefeito Eduardo Paes, por exemplo, chamou a aliança de bacanal eleitoral. Como se costurou este acordo?

Eu tive que ser candidato ao Senado. Foi feito um esforço enorme pelo senador Aécio Neves (PSDB), pelo ex-governador Sérgio Cabral, por Pezão e Paes para que eu retirasse minha candidatura ao governo do Rio. As pesquisas diziam, lá atrás, que eu tinha 10% das intenções de voto, e o Pezão 12%. Quando o Romário (PSB) foi apoiar o Lindberg Farias (PT), o Aécio vinha aqui em casa de 15 em 15 dias para argumentar que tínhamos que nos unir “do lado de cá”. Ele estava encantado com o “Aezão” (dissidência do PMDB que apoiou o governador e o tucano). Resisti o quanto pude, mas a direção do partido aceitou. Seria melhor perder o governo do que o Senado.

Por que?

Para o próprio Aécio teria sido melhor. O cenário era muito difícil para ele no Rio, e comigo candidato ao governo, teria tempo de TV. E o PMDB não fez campanha para mim, meu nome não aparecia nos panfletos. O Paes fez campanha para o Carlos Lupi (candidato do PDT ao Senado), por exemplo. Equívocos da juventude... Foi um erro concorrer ao Senado, mas não pela derrota: o Romário teve o voto da antipolítica, as análises mostram isso.

Em 2012, sua aliança com Anthony Garotinho para lançar seu filho à prefeitura tendo Clarissa como vice também naufragou. Foram duas campanhas equivocadas?

Neste ano, foi erro do Aécio. Ele não foi em cidades onde candidatos tucanos à Presidência ganharam em outras eleições porque esse municípios não eram reduto do PMDB. Comigo, iria. Eu tive uma campanha muito prazerosa ao lado do Pezão, não me arrependo. Em 2012 foi diferente. Certamente foi um erro desde o princípio. Pensava-se que os eleitores de uma família e de outra se juntariam. Mas não foi isso que ocorreu.

A Clarissa já declarou que o senhor e Rodrigo desrespeitaram o combinado, que era o DEM apoiar o candidato do PR neste ano.

Não tinha combinado nenhum! Sempre disse que 2012 nada tinha a ver com 2014. Fui uma voz vencida, pois queria o Fernando Peregrino de vice. Clarissa diz que o Rodrigo fez o combinado com ela, mas isso teria que ser algo partidário. Eu nunca quis essa aliança.

Qual é o futuro do DEM?

Vamos analisar o quadro e possivelmente procurar uma fusão, que não necessariamente será com o PSDB. É uma discussão que não será fácil. Nós perdemos muitos quadros com a criação do PSD. Além disso, muitos dos que nasceram politicamente comigo migraram depois da eleição do Paes, em 2008. É difícil para o DEM, não se constroem votos do dia para noite. Mas sou um olheiro; a procura por um novo talento é permanente. Sempre enxerguei os jovens que conseguiam colocar o dedo para fora d’água.

O prefeito Eduardo Paes é um dos jovens que o senhor formou, e se tornou seu adversário. Ingratidão?

Quando você se casa com uma pessoa, vive 15 anos com ela e o casamento acabara, pode chamar de ingratidão? A vida é assim. Criei o Paes. É uma vitória. Mas se não produziu lealdade é outra história. Em 1992, ele era estagiário da vereadora Andrea Gouvêa Vieira, e me pediu para ir para assessoria jurídica da Comlurb. Mas o convenci a não ir, pois estava criando as subprefeituras, e enxergava nele um grande potencial. Ele esteve comigo na maioria dos mandatos, e só virou crítico a mim quando foi candidato a prefeito em 2008.

De prefeitura o senhor entende. Como vai ser em 2016?

Vamos ver se Rodrigo vai ser candidato. Eu não vou mais. É preciso renovar a política. E vamos ver se o Paes vai emplacar o candidato dele no PMDB, lembrando que tem o Cabral ainda. Numa eleição entre ele, Romário e Marcelo Freixo (deputado estadual do Psol), o Cabral sai na frente.

 

Fonte: Jornal O DIA

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