O jornalismo, infelizmente, não é somente um repórter entrevistando uma fonte.

Depois disso, alegam, vai para redação e escreve sua matéria.

Quem dera que fosse isso.

Essa visão é primária, redundância ...

Até porque quem lida com informações tem que lidar com pensamento e racionalização sobre o material adquirido o tempo todo, senão não consegue estabelecer uma linha concreta de comunicação com seus leitores.

Muitas vezes esse material é contraditório, polêmico e indefinível.
Martin Bell, um dos mais importantes jornalistas investigativos ingleses, propôs que a objetividade fosse trocada pelo termo “jornalismo de compromisso”.

Ele mostra como as equipes de cinegrafistas foram usadas na guerra contemporânea como se não houvesse a possibilidade de serem filmadas; e como os comandos militares dos países em guerra adequavam suas operações a cobertura de televisão.

Taí, os vídeos das organizações terroristas decapitando jornalistas no oriente médio...

Martin Bell afirma que crimes de guerra em larga escala jamais aconteceriam se pudessem ser filmados pelas câmaras de televisão.

“Em outras palavras, as notícias não necessariamente refletem a realidade, mas ajudam a criá-la. Isso também é seletivo”, escreve Hugo de Burgh a respeito da tese de Bell.

Martin Bell defende que onde quer que o mal esteja e onde exista gente sofrendo, não é só inadequado como não é apropriado que um repórter tente se desprender disso ou, como ele diz, “neutralize” o que está acontecendo.

Ele se pergunta, retoricamente, se seria possível exigir dos repórteres que cobriram as atrocidades cometidas pelos alemães na Europa em 1945, que fossem neutros

Sim, Bell pode até simpatizar com as vítimas mas a primeira tarefa não é simpatizar, mas compreender, segundo Burgh.

Hugo de Burgh entra em ação para fundamentar a tese de Bell.

Ele escreve: 
“(...) o jornalismo de compromissos de Bell, ao menos, na visão de seus colegas, não descartou a necessidade de uma crença na verdade e na objetividade, sem a qual não haveria muita justificativa para a profissão de jornalista. O ponto de vista de Martin Bell sem dúvida tem seus aliados na academia, onde a relativização e o conhecimento cultural costumam ser aceitos como premissas de toda pesquisa e comunicação, mas até agora os jornalistas anglófonos estão sustentando em suas crenças”

Bem, entendemos o seguinte:

1.Bell retoma ao velho mito de rua: como o jornalista pode estabelecer a verdade diante de múltiplas verdades?

2.Sim, ao contrário do que se prega, o jornalista toma posição diante de tragédias. Impossível ser neutro nessa hora, até porque ele como profissional é invadido por subjetividades de todos os tipos.

3.Agora, o produto final de sua ação, claro, nessa hipótese, vai depender de sua figura humana. Dependendo de cada jornalista, a categoria social originária dele pode ter versões conflitantes com o todo da notícia.

Fonte: Burgh, Hugo de. Jornalismo investigativo, contexto e prática. Roca, SP: 2008.

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