Ministério da Pesca estuda criar instituto de pesquisa em terreno na Ilha do Governador

 

Discussão de longa data entre a comunidade de pescadores da Ilha, o terreno do Ministério da Pesca e Aquicultura, na Ribeira, finalmente terá uma destinação. Após abandonar a ideia de construir um terminal pesqueiro no local devido à pressão de moradores, a pasta estuda outras funções ela. A decisão será tomada após o atual ministro, Helder Barbalho, reunir-se, ainda este mês, com o prefeito Eduardo Paes e com o governador Luiz Fernando Pezão. Segundo Barbalho, as principais alternativas são a criação de instituições de pesquisa e ensino. Pescadores reivindicam a inclusão da Ilha Seca no projeto. O martelo será batido em abril.

— Nós temos a opção de construir um instituto de pesquisa ou um espaço de formação de pescadores. Também há a possibilidade de fazermos um grande projeto que inclua o setor turístico, já que o terreno tem uma localização estratégica. A orientação do governo federal é fazer algo que atenda à população local — adianta o ministro.

Ainda segundo Barbalho, empossado em janeiro, a decisão sobre que tipo de atividade será desenvolvida no terreno, que já foi desapropriado, também vai levar em conta outras obras do setor, como é o caso da Cidade da Pesca, em São Gonçalo:

— Teremos que discutir isso com o governo e a prefeitura, mas temos pressa exatamente porque a concepção e a execução do projeto devem levar algum tempo. Compreendo que ele deve se coordenar com a Cidade da Pesca, por exemplo, fornecendo mão de obra qualificada para trabalhar lá.

Representantes da Colônia Z-10, vizinha ao terreno, e da Associação dos Pescadores Livres de Tubiacanga (Apelt) defendem que o Ministério inclua no projeto executivo do novo terreno a exploração da Ilha Seca. Localizada a cinco minutos de barco do terreno do ministério (fica na outra margem da baía), ela tem 25 mil metros quadrados e já abrigou instalações de distribuidoras de combustível. O projeto é utilizar as instalações existentes — cinco grandes tanques e pequenas casas — para fins ecológicos, como o cultivo de alevinos para repovoar a Baía de Guanabara e de mudas de espécies de mangue, recompondo o ecossistema em áreas onde ele se encontra degradado.

O pescador Paulo Sérgio de Menezes, de 64 anos, conhece a Ilha desde a infância e foi um dos idealizadores do projeto, encaminhado pela Apelt ao Ministério da Pesca, pela primeira vez, em 2007.

— Desde os meus 9 anos venho aqui. Tempo atrás, após ver que a ilha estava totalmente abandonada, cheguei a pensar em vir morar aqui, com outros quatro pescadores e nossas famílias. Foram dessas visitas à ilha que amadureci a ideia — explica.

De acordo com o ambientalista Sergio Ricardo, que auxilia a Apelt na elaboração do projeto, pesquisadores da UFRJ, da UFF e da Fiocruz apoiam a ideia. Segundo ele, a associação tenta agora, junto à Secretaria de Patrimônio da União (SPU), órgão ligado ao Ministério do Planejamento, a cessão da Ilha Seca. Esse é o primeiro passo para que o projeto vire realidade.

— Nosso pleito é que o projeto executivo do terreno (do Ministério da Pesca) na Ponta da Ribeira também contemple a Ilha Seca. Várias das ideias de equipamentos, programados pelo ministério, podem ser alocadas lá, como centros de pesquisa e instalações de lazer e turismo, como um restaurante — defende o ambientalista.

De acordo com Barbalho, a ideia de estender o projeto para a Ilha Seca está em análise. Ele vê com bons olhos a possibilidade:

— Vemos a proposta de forma positiva. Quanto mais pudermos fazer estruturas que otimizem os espaços e a produção pesqueira no estado do Rio, que é uma região estratégica no setor pesqueiro, melhor para todos.

Caso o governo federal decida mesmo utilizar as instalações da Ilha Seca, será necessário fazer investimentos para a recuperação da estrutura física. A ilhota, encravada na entrada da Baía de Guanabara, conta com um píer capaz de receber embarcações com segurança, servindo de ligação com a Ribeira, que fica na outra margem.

No entanto, os tanques nos quais os alevinos seriam criados foram tomados pela mata que se formou após a desocupação. Por todo lado que se olhe, o mato cresce desordenadamente e, em alguns pontos, chega a dois metros de altura. A vegetação também contribuiu para a deterioração das construções existentes.

Sergio Ricardo, porém, avalia que a requalificação do local não seria dispendiosa.

— Não é necessário um grande investimento. As construções que ainda restam não têm problemas estruturais; precisam apenas de reformas. Os tanques estão hoje com terra e vegetação, mas após serem retiradas, basta fazer o bombeamento da água da baía para começar a criação dos alevinos. E ainda existe a vantagem de estar no centro de canal, onde a água tem mais qualidade. É importante termos uma instituição de pesquisa na Baía de Guanabara. O campus da UFRJ é bem ao lado, por exemplo, e os alunos precisam ir para o interior para estudar a área de pesca — lamenta o ambientalista.

Enquanto nenhuma decisão é tomada sobre o uso da Ilha Seca, ela continua sendo utilizada por pescadores e aventureiros. Durante a visita da equipe de reportagem, dois pescadores circulavam por lá. Um deles, que pediu para não ser identificado, contou que, em datas festivas, o lugar fica cheio:

— No carnaval, muita gente acampou aqui. Um cara trouxe até um gerador. Conseguimos assistir ao desfile das escolas de samba e tudo.

 




Fonte:
O Globo

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