Flupp transforma memórias das favelas em quadrinhos

‘Quem passa por aqui não tem ideia das lutas que a favela enfrentou para ser vista com mais consideração hoje’, diz o idealizador da Flupp Literária Internacional das Periferias), Julio Ludemir, referindo-se à Babilônia e ao Chapéu Mangueira. Sedes da 4ª edição do evento, que começa hoje, as comunidades vizinhas não apenas acolhem o festival e seus mais de 50 autores, hospedados nos hostels de lá. Elas também têm suas memórias transformadas em quadrinhos. 

“Quero que todos se envolvam”, dispara Ludemir ao falar do projeto de resgate da memória desses lugares. Para isso, nada melhor do que ouvir os próprios moradores de lá. “Se hoje essas favelas se tornaram ponto turístico, foi porque pessoas como o David e o pai dele batalharam muito para isso”, diz ele, referindo-se ao dono do Bar do David, que ganhou fama internacional no meio gastronômico.

Aliás, David foi um dos moradores escolhidos para se tornar personagem dos lambe-lambes criados para a exposição urbana ‘A Favela Tem Memória’. A mostra começa no sábado e conta com desenhos de Bruno Drummond, Tiago Elcerdo, Daniel OG e Marilia Bruno. Organizada pelo coletivo Quadrinhos para Barbados, a iniciativa reuniu os profissionais com famílias que deram origem ao complexo Babilônia-Chapéu Mangueira.

“O pessoal de lá tem orgulho de sua história. Não tem como não ser tomado por esse sentimento quando conversa com eles”, afirma Bruno Drummond, que assina os quadrinhos inspirados em David. “Ele tem uma história sensacional”, define o quadrinista, que tentou sintetizar o que ouviu em cinco páginas de um metro e meio cada. “O pai dele (David), o Lúcio Bispo, fundou a primeira associação de favelas do Rio e teve um grande envolvimento na ocupação e vivência daquele lugar”, adianta ele.

Porém, remexer no baú de memórias dos moradores do complexo traz à tona muito mais do que orgulho. “Existe uma autoestima que você abala quando fala do passado. Pois se lembra das conquistas, mas também de muitas dores”, explica Ludemir, que há dois anos mora no Chapéu Mangueira.

“Esse esforço é para os novos moradores e para a juventude”, diz o idealizador, que pretende também convidar os idosos de lá para contar sobre o passado do local. A ideia é expandir a ação às favelas que a Flupp passar no futuro. “Há um desejo da comunidade de ter um espaço de preservação da memória da Babilônia. Mas falta verba para concretizar isso”, lamenta Julio.

FLUPP 2015

De hoje até o dia 8, a Flupp – Festa Literária das Periferias — ocupa o Complexo Babilônia/Chapéu Mangueira, no Leme, com sua programação cultural gratuita (veja roteiro completo em www.flupp.net.br). A partir de hoje, os artistas plásticos suíços Raphael Borer e Carl Rudof Meins colorem as ruas das comunidades com grafite. Além de voluntários lendo histórias de porta em porta, sarau poético e mesas literárias. Lançado na última edição, a competição de poesia falada, ‘II Rio Poetry Slam’, volta à cena com 16 poetas de diferentes países.

 

 

Fonte: O Globo

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