Cidade das Artes, na Barra, arrecadou R$ 5,9 milhões, mas gastou sete vezes mais

Símbolo de polêmica na última administração do ex-prefeito Cesar Maia, a Cidade das Artes, na Barra da Tijuca, reinaugurada há quase três anos, ainda não consegue fechar suas contas. O equipamento já atraiu cerca de 700 mil pessoas desde que foi reaberto. Apesar de oferecer uma multiplicidade de eventos, como feiras, musicais e óperas, a Fundação Cidade das Artes, criada para administrar o espaço, arrecadou somente R$ 5,9 milhões desde janeiro de 2013, como apontam dados do Portal da Transparência da prefeitura, atualizados na última quarta-feira. Valor muito abaixo de suas despesas com manutenção, pessoal e montagem de espetáculos, que já somaram R$ 43,2 milhões nesse período.

Com isso, desde então, a prefeitura já teve de injetar R$ 37,3 milhões no complexo — que tem 97 mil metros quadrados e cuja construção custou cerca de R$ 500 milhões, cinco vezes mais que o previsto na apresentação do projeto. A receita da Cidade das Artes sai da arrecadação com bilheteria, estacionamento e aluguel de áreas. Hoje, o que gera maior renda para o equipamento — pensado inicialmente apenas para a música clássica — é a imobiliária Patrimóvel, que paga R$ 480 mil por ano pelo uso da Grande Sala para atualizar seus mais de mil corretores sobre novidades do mercado.

— Antes, organizávamos os encontros num cinema do Barra Shopping, mas o espaço atual tem a vantagem de ser maior. Consideramos que a Cidade das Artes tem não apenas uma vocação cultural, mas também para ser um grande centro de convenções da cidade — diz o presidente da empresa, Rubem Vasconcellos.

Os encontros de corretores acontecem às segundas-feiras, dia em que a Cidade das Artes está fechada para manutenção. Presidente da Fundação Cidade das Artes, Emílio Khalil defende o aluguel do espaço para eventos. Ele frisa que a locação de equipamentos culturais para gerar receita é comum em outros lugares do mundo. Khalil acredita que, no futuro, o público no local aumentará, principalmente o que mora na Zona Sul. Mas o administrador reconhece que a conta de manutenção nunca será zerada e precisará de recursos do tesouro:

— Não existe equipamento cultural similar no mundo que se mantenha sem apoio oficial. Isso vale para a Cidade das Artes, para a Ópera de Paris, para o Metropolitan de Nova York, para o Colón de Buenos Aires e até para complexos culturais dos Estados Unidos que costumam receber doações milionárias, o que não é uma tradição do Brasil.

As despesas para gerenciar o espaço são consideráveis. Ao todo, 200 funcionários de empresas terceirizadas mantêm o complexo, que conta com apenas 30 empregados. Desde 2013, somente a manutenção das escadas e elevadores custou R$ 1,4 milhão. Essa mesma quantia foi gasta para manter o sistema de climatização. E os gastos acumulados com a conta de luz chegaram a R$ 3,8 milhões — só ano passado, a conta de energia do espaço foi R$ 1 milhão mais cara do que os R$ 780 mil gastos no Teatro Municipal, na Cinelândia.

De Dança a concertos da OSB

Algumas instalações previstas no projeto original, como salas de cinema e um restaurante, não têm prazos para sair do papel. Por outro lado, nos últimos anos passaram pela Cidade das Artes nomes como o ator Willem Dafoe e o bailarino Mikhail Baryshnikov. Entre as atrações brasileiras, a programação incluiu da Companhia de Dança Deborah Colker a edições do fetival Back2Black.

Desde março de 2013, o local também se transformou na sede artística da Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB), conforme conceito desenvolvido pelo ex-prefeito Cesar Maia. Por semana, são realizados até cinco ensaios no local. Somente no ano passado, a OSB promoveu 24 concertos na Grande Sala e no Teatro de Câmara. Em 2015, deverá fechar o ano com 39 apresentações.

Atualmente, a Cidade das Artes negocia a cessão do espaço para um congresso do Comitê Olímpico Internacional (COI) e para eventos das delegações de atletas dos Estados Unidos e Japão. Nas negociações, são oferecidas três opções a produtores. O lugar pode ser cedido por uma participação de 25% da bilheteria, com um mínimo garantido de R$ 25 mil. O inquilino pode também arcar totalmente com as despesas ou optar por um modelo misto em que patrocina o evento e fica com parte da bilheteria, sem, necessariamente, ter retorno total do investido.

Ano que vem, por exemplo, o ator Thiago Lacerda participará de duas peças de William Shakespeare na Cidade das Artes. Como agente cultural, ele elogia o complexo: — Uma coisa é criticar a má gestão do espaço. A outra é afirmar, de forma equivocada, que, como equipamento cultural, a Cidade das Artes foi uma obra desnecessária. No Rio, não existe lugar semelhante.

Prefeito Eduardo Paes reconhece que o complexo não se paga

Pré-inaugurada incompleta e com atraso, em 2008, fechada para mais cinco anos de obras e reaberta em 2013, a Cidade das Artes ainda causa polêmica sobre seu uso e custos de manutenção. Presidente da fundação que a administra, Emílio Khalil afirma que detalhes da concepção do projeto dificultam a operação. Entre outros problemas, ele lembra que é difícil chegar ao local a pé mesmo para quem mora na Barra. Já o prefeito Eduardo Paes prefere relegar ao passado a polêmica sobre a construção. Ele diz que o equipamento já conta com boa oferta de opções culturais, mas reconhece que o espaço arrecada menos do que gasta.

— Equipamentos de cultura não costumam se pagar. Mas está feito. O importante foi que abrimos o espaço e demos um destino para a Cidade das Artes — diz ele.

O ex-prefeito Cesar Maia, por sua vez, sugere que o complexo ainda não é bem utilizado em termos de publicidade, o que, segundo ele, poderia gerar renda para a Cidade das Artes: — O estranho é que no ponto publicitário potencialmente mais valorizado da cidade até hoje não se tenha licitado seu naming rights (direito de propriedade do nome). É verdade que não se pode pensar um equipamento cultural em termos de lucratividade, mas, no caso, a alternativa para gerar receitas é evidente.




Fonte: Extra

Copyright© 2003 / 2015 - ASFUNRIO
ASFUNRIO - Associação dos Servidores da SMDS e Fundo Rio
Visualização Mínima 800x600 melhor visualizado em 1024 x 768
Gerenciado e Atualizado: Leonardo Lopes