Fifa admite transferência de US$ 10 milhões, mas nega que fosse para propina
A Fifa reconheceu nesta terça-feira que realizou uma transferência de US$ 10 milhões (R$ 32 milhões) "para o desenvolvimento do futebol no Caribe" e negou que essa quantia tenha sido usada para o pagamento de propina para o ex-vice-presidente da entidade Jack Warner, acusado pela Justiça americana de corrupção. Em comunicado divulgado nesta terça-feira, a entidade também negou que o secretário-geral, Jérôme Valcke, ou qualquer outro dirigente da entidade soubesse da transferência do dinheiro.
Contudo, uma carta enviada pela Associação Sul-Africana de futebol a Valcke em março de 2008 indica que o secretário-geral da entidade sabia da transferência do dinheiro. O documento foi reproduzido pelo jornal inglês "Daily Mail" e revela que o dirigente sabia do pagamento e tinha sido avisado dele. E que o dinheiro foi enviado para o então presidente da Concacaf, Jack Warner.
De acordo com a Fifa, a quantia era para ajudar "a diáspora de sul-africanos no Caribe". A África do Sul já havia negado o pagamento de suborno.
"Em 2007, como parte da Copa do Mundo de 2010 na África do Sul, o governo sul-africano aprovou um projeto de US$ 10 milhões para ajudar a diáspora de sul-africanos no Caribe", afirmou a Fifa, em um comunicado, que acrescetan que o dinheiro saiu do comitê de organização da Copa do Mundo na África do Sul de 2010.
"O pagamento dos US$ 10 milhões foi autorizado pelo presidente da comissão de finanças e executado de acordo com as normas da Fifa. Nem o secretário-geral, Jérôme Valcke, nem nenhum alto dirigente da Fifa estava a par do início, da aprovação ou da aplicação do projeto", completou a Fifa.
Nesta segunda-feira, o jornal "New York Times" informou que Valcke, o número 2 da entidade e homem de confiança do presidente Joseph Blatter, teria autorizado a transferência do dinheiro como propina para Warner, ex-presidente da Concacaf.
O suborno faria parte de uma compra de votos por parte da África do Sul para ganhar o direito de organizar a Copa do Mundo de 2010. Warner foi um dos 14 indiciados, entre dirigentes e empresários de marketing esportivo, na Justiça dos EUA na semana passada por corrupção no futebol. Sete deles estão presos na Suíça (inclusive o ex-presidente da CBF José Maria Marin), um teve a prisão domiciliar decretada no Paraguai (Nicolás Leoz, ex-presidente da Conmebol, a Confederação Sul-Americana) e Warner pagou fiança milionária em seu país, Trinidad e Tobago, para não ficar detido.
De acordo com o "New York Times", a transferência do dinheiro foi realizada em três parcelas entre janeiro e março de 2008 e seria um "elemento central do escândalo de corrupção que envolve o mundo de futebol" e seus dirigentes.
Nenhuma acusação foi apresentada contra Valcke, mas o jornal americano afirma que o secretário-geral da Fifa é o não identificado "alto funcionário", que supostamente transferiu a quantia a Warner.
Nesta terça-feira, a Promotoria Federal Suíça de Justiça informou não ter recebido nenhum pedido de assistência por parte da Justiça americana que envolva Valcke. O secretário-geral, no entanto, não comparecerá no sábado à cerimônia de abertura da Copa do Mundo feminina, no Canadá, ao contrário do que estava previsto.
Apesar do escândalo e dos pedidos de renúncia, Blatter, de 79 anos, foi reeleito presidente da Fifa na sexta-feira para o seu quinto mandato. Blatter prometeu, após a reeleição, sem anunciar qualquer reforma estrutural, "levar a Fifa para o local que merece" e deixar para seu sucessor "uma Fifa mais forte".
Fonte: O Globo |